Huntington’s disease research news.

Em linguagem simples. Escrito por cientistas.
Para a comunidade HD global.

A mutação da DH afeta o crescimento das crianças?

Um pequeno estudo sugere que crianças com a mutação da DH, mas sem sintomas, têm diferenças subtis no crescimento. O que significa isto?

Traduzida por Filipa Júlio

O gene e a proteína huntingtina estão ativos em todo o nosso corpo, e a perda de peso é um problema bem conhecido quando os sintomas da doença de Huntington começam. No entanto, durante muitos anos, as pessoas com a mutação que causa a DH têm a mesma aparência e sentem-se iguais às pessoas sem ela. Agora, um pequeno estudo sugere que as crianças portadoras da mutação da DH podem ter diferenças subtis no crescimento. Estas diferenças são reais e o que significam?

Desenvolvimento versus degeneração

A doença de Huntington é classificada como uma ‘doença neurodegenerativa’, porque causa a perda gradual de células cerebrais. As técnicas científicas modernas são melhores do que nunca a detetar os efeitos iniciais da neurodegeneração. Por exemplo, podemos ver alterações subtis em exames de ressonância magnética vários anos antes do início das alterações.

A mutação genética da DH afeta o crescimento e o desenvolvimento? Possivelmente, de formas muito subtis - mas não tanto que seja um problema em si para qualquer criança.
A mutação genética da DH afeta o crescimento e o desenvolvimento? Possivelmente, de formas muito subtis – mas não tanto que seja um problema em si para qualquer criança.

No entanto, também sabemos que a proteína huntingtina, produzida pelo gene da DH, é importante para um desenvolvimento saudável. O que é menos claro é qual o efeito, se houver algum, que o gene mutante da DH tem no desenvolvimento do cérebro e do corpo.

Um estudo nos anos 80 relatou que as diferenças na altura, peso e tamanho da cabeça eram ligeiramente diferentes em pessoas em risco de desenvolver DH. Mais recentemente, medições de exames de ressonância magnética mostraram volumes cranianos menores em homens – mas não em mulheres – com a mutação da DH.

Com base nestes relatórios, alguns investigadores sugeriram que estas diferenças significavam que os cérebros e corpos das pessoas com a mutação da DH se desenvolvem de forma diferente. É uma área controversa, e outros estudos nestas áreas não encontraram os mesmos resultados.

Um problema nesta área é que, ao estudar adultos, pode ser difícil distinguir entre diferenças de desenvolvimento (coisas que são diferentes durante o crescimento) e alterações degenerativas (coisas que mudam mais tarde, quando a doença começa).

Alguém pensa nas crianças?

A forma óbvia de abordar a questão seria repetir estas medições em crianças com e sem a mutação da DH. Mas isto levanta um grande problema ético: seria necessário testar geneticamente crianças de famílias com DH. Testar crianças para a mutação da DH é antiético porque é um direito de todos decidir por si próprios se querem ser testados.

Um grupo de investigadores liderado pela Dra. Peg Nopoulos da Universidade de Iowa desenvolveu uma forma inteligente de contornar este dilema e acabou de publicar as suas descobertas na revista Neurology.

Recrutaram 34 crianças de famílias com DH; cada criança tinha 50% de probabilidade de ter herdado um gene DH expandido, mas nenhuma das crianças tinha sinais ou sintomas da doença de Huntington.

O ADN de cada criança foi testado para a mutação, mas os resultados foram mantidos em segredo de todos os envolvidos – as crianças, os pais e os investigadores.

Os investigadores mediram a altura, peso e tamanho da cabeça das crianças. Todos os dados de identificação foram removidos das medições, que foram então unidos aos resultados dos testes genéticos para a análise estatística.

Das 34 crianças inscritas, vinte revelaram ser portadoras da mutação da DH, enquanto catorze testaram negativo.

Como os grupos eram pequenos, os investigadores também recrutaram um grande grupo de 138 crianças não provenientes de famílias com DH, para servir como grupo de comparação para as crianças com a mutação da DH.

Diferenças subtis

As crianças tinham uma idade média de cerca de treze anos e os investigadores calcularam que as vinte com a mutação genética da DH estavam estimadas a mais de trinta anos de distância de desenvolver sinais da doença.

“Esta investigação não altera o facto de que a aparência física não pode ser usada para prever se uma pessoa irá desenvolver DH”

Foram encontradas diferenças subtis entre as crianças com a mutação da DH e o grupo de controlo. As que tinham a mutação eram muito ligeiramente mais baixas e menos pesadas, e as suas cabeças eram um pouco mais pequenas. Curiosamente, a diferença no tamanho da cabeça estava ligada ao comprimento do gene anormal.

As diferenças eram todas pequenas e, como os investigadores salientam, é improvável que sejam significativas em si mesmas – em vez disso, apontam para possíveis efeitos subtis e precoces da mutação da DH no desenvolvimento das crianças.

Advertências

Embora este estudo seja interessante por apoiar a ideia de que o gene da DH tem um papel no desenvolvimento, talvez levante mais questões do que respostas.

Uma nota importante de cautela é que o número de crianças estudadas foi muito pequeno, pelo que é possível que apenas uma ou duas crianças com medições fora do intervalo médio possam distorcer os resultados.

Isto é destacado pelo facto de os investigadores terem tido de recrutar um grupo de crianças não provenientes de famílias com DH, uma vez que as diferenças entre as crianças de famílias com DH com e sem a mutação eram muito menos marcantes. Na verdade, as crianças em risco que testaram negativo eram invulgarmente pesadas – um resultado estranho que não pode ter nada a ver com o gene da DH e é provavelmente devido ao acaso.

Assim, usar crianças de famílias sem DH aumentou a capacidade dos investigadores de detetar diferenças ligadas à mutação da DH. Mas também introduziu outra possível fonte de erro. Todas as crianças com a mutação estavam a crescer com um ou mais familiares afetados pela doença de Huntington. Esta situação de vida poderia ter efeitos na nutrição e no desenvolvimento. Como sabemos, a DH pode fazer com que os lares se tornem caóticos de uma forma que pode dificultar o desenvolvimento das crianças. As crianças de ‘controlo’ estariam livres de quaisquer destas influências ‘ambientais’ no desenvolvimento.

Mensagem principal

Esta investigação provocadora de reflexão destaca a importância de estudar os efeitos mais precoces da mutação que causa a doença de Huntington. A ideia de que a mutação pode afetar o crescimento e desenvolvimento muito precoces é certamente importante, mas teríamos de concluir que nesta fase o júri ainda está a deliberar.

Os investigadores por detrás deste relatório estão agora a acompanhar o desenvolvimento das crianças ao longo do tempo, para ver se conseguem descobrir alguns efeitos significativos. Mas sabemos de estudos existentes que quaisquer efeitos permanecerão subtis e bem dentro do intervalo de variação normal entre crianças em desenvolvimento.

Uma coisa que as pessoas em risco de DH frequentemente se preocupam é que, por se parecerem com a mãe ou pai que tinha a doença, isso deve significar que herdaram o gene. Gostaríamos de tranquilizar os leitores que toda a ciência publicada até à data desmente esses receios.

Embora levante questões científicas interessantes sobre a biologia do gene huntingtina, esta nova investigação não altera a verdade fundamental de que a aparência física não pode ser usada para prever se uma pessoa irá desenvolver DH.

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