Ed WildEscrito por Professor Ed Wild Editado por Dr Jeff Carroll Traduzido por Filipa Júlio

Os resultados do ensaio MermaiHD do Huntexil para os problemas de movimento na DH foram publicados na revista científica “The Lancet Neurology”. Apesar das notícias contraditórias, não se alterou a necessidade de realizar um ensaio adicional antes do uso do Huntexil em doentes poder ser aprovado.

Huntexil e problemas motores

Huntexil é o nome comercial da substância ACR16, também conhecida como pridopidina. Desenvolvido pela Neurosearch, uma companhia farmacêutica dinamarquesa, o Huntexil é um novo tratamento potencial destinado a melhorar os sintomas da doença de Huntington.

Está a ser planeado mais um ensaio do Huntexil, mas, entretanto, temos já fármacos que podem ajudar em muitos dos sintomas da DH. A fisioterapia pode ser também muito útil nos problemas de movimento.
Está a ser planeado mais um ensaio do Huntexil, mas, entretanto, temos já fármacos que podem ajudar em muitos dos sintomas da DH. A fisioterapia pode ser também muito útil nos problemas de movimento.

O alvo do Huntexil é o movimento, ou sintomas “motores”, da DH. Ao contrário de outros fármacos existentes, o Huntexil não se destina apenas a diminuir os movimentos involuntários (“coreia” e “distonia”), mas a melhorar o funcionamento motor global, incluindo equilíbrio e controlo voluntário.

A Neurosearch conduziu dois ensaios clínicos com o Huntexil - o ensaio MermaiHD, na Europa, e o ensaio HART, nos EUA. Os resultados desses ensaios foram apresentados em comunicados de imprensa e em várias conferências científicas, e já escrevemos sobre eles no HDBuzz.

É bom sublinhar que o Huntexil é um fármaco de controlo de sintomas, e não temos razões para considerar que é modificador de doença na DH - não há nada que sugira que pode prevenir ou atrasar a progressão da doença.

Qual a razão dos títulos das notícias?

O Huntexil voltou a ser notícia esta semana, com um leque confuso de títulos, desde “Pridopidina parece prometedora em ensaio”, até “Fármaco desilude na doença de Huntington”. Então, o que é que realmente aconteceu?

A resposta mais simples é: quase nada. Estes títulos não se referem a um novo ensaio nem a quaisquer novos dados. Foram desencadeados pela publicação formal dos resultados do estudo MermaiHD na revista de circulação internacional com arbitragem científica “The Lancet Neurology”.

O que diz o artigo?

O artigo da “The Lancet Neurology” diz o que esperávamos que dissesse a partir das apresentações anteriores de dados do “MermaiHD” feitas pela Neurosearch. A ideia básica é a de que este fármaco falhou ao tentar alcançar o objectivo primário a que se tinha proposto - e essa é a referência do seu sucesso.

Este fracasso foi a razão pela qual a FDA (Food and Drug Administration), nos EUA, e a EMA (European Medicines Agency), na Europa, não aprovaram o uso de Huntexil nos doentes, insistindo que será necessário mais um ensaio que responda ao objectivo básico que foi proposto, para que possam considerar esta aprovação.

«Basicamente, a situação não se alterou quanto ao Huntexil. »

De entre as diferentes dimensões que foram avaliadas, houve algumas pistas de que a pridopidina poderá ter alguns benefícios. Na dose mais elevada das duas testadas, alguns resultados motores pareceram ligeiramente melhores nos doentes tratados. E o fármaco foi considerado bastante seguro, sem muitos efeitos secundários. Por causa destes pontos positivos, a Neurosearch está a fazer pressão para que exista mais um ensaio.

Qual o porquê da confusão?

A confusão em torno dos títulos relacionados com este artigo reflecte um problema comum na ciência - a tendência das novas fontes para quererem passar uma mensagem demasiado simples, quando a ciência raramente é linear.

Como de costume, encorajamos os leitores a verem para além dos títulos e a não dependerem de apenas uma fonte de notícias. O nosso artigo acerca das “dez regras de ouro” dá dicas sobre como encontrar o que é verdadeiro entre o sensacionalismo.

E agora?

Assim, basicamente, a situação não se alterou para o Huntexil. O artigo da “The Lancet Neurology” fornece garantias de que o ensaio MermaiHD foi bem feito, de que a substância se mantém interessante e que é bem tolerada.

Mas ainda é necessário um ensaio adicional - actualmente a ser planeado pela Neurosearch - se se pretender que o Huntexil seja um tratamento aprovado para a doença de Huntington. Informar-vos-emos acerca deste ensaio, mal os seus pormenores sejam anunciados.

Entretanto, já existem substâncias disponíveis que são amplamente utilizadas para atenuar os sintomas motores - como a tetrabenazina, olanzapina, risperidona e a sulpirida. E a fisioterapia e o exercício físico podem também fazer uma grande diferença. Por isso, se tiver dúvidas em relação ao controlo de movimentos, fale com o seu médico.

Os autores não têm qualquer conflito de interesses a declarar. Para mais informações sobre a nossa política de divulgação, veja a nossa FAQ...