Huntington’s disease research news.

Em linguagem simples. Escrito por cientistas.
Para a comunidade HD global.

‘Buzzilia’ do Congresso Mundial da Doença de Huntington: dia 3

#Buzzilia, dia 3: resumo do Jeff e Ed dos acontecimentos do terceiro dia do Congresso Mundial da DH no Rio de Janeiro

Traduzida por Filipa Júlio

O nosso terceiro relatório diário do Congresso Mundial sobre a Doença de Huntington no Rio de Janeiro, Brasil.

08:05 – E estamos de volta, para o dia 3 do Congresso Mundial sobre a Doença de Huntington no Rio de Janeiro

08:07 – Jim Gusella, um dos líderes da busca pelo gene da DH, dirige-se ao CMDH sobre por que a genética ainda importa na DH. Gusella está interessado no facto de a idade em que as pessoas têm sintomas de DH variar, e parte desta variação é genética. O grupo de Gusella está à procura de outros fatores genéticos que possam fazer com que as pessoas tenham sintomas de DH mais cedo ou mais tarde.

Realizar o Congresso na América Latina trouxe perspetivas únicas de uma parte do mundo onde muito trabalho é necessário para melhorar a investigação e os cuidados.
Realizar o Congresso na América Latina trouxe perspetivas únicas de uma parte do mundo onde muito trabalho é necessário para melhorar a investigação e os cuidados.

08:11 – Gusella: Estranhamente, embora ter um gene mutante da DH cause DH, ter 2 cópias não parece tornar a doença pior. Variações na sequência de vários outros genes foram propostas para contribuir para quando alguém terá DH. Gusella sugere que muitos destes contribuintes genéticos propostos são vistos num estudo, mas falham em ser replicados noutro. Gusella está agora a analisar todo o genoma de pacientes com DH para tentar encontrar variações associadas ao início mais precoce ou tardio da DH. Este tipo de estudo requer milhares de amostras de ADN de pacientes com DH. Gusella acredita que a variação na idade de início na DH é uma causa de esperança, porque sugere que é possível atrasar o início.

08:29 – Gusella: Só precisamos de encontrar os genes certos!

08:30 – Lesley Jones dirige-se ao CMDH sobre o que os ‘modelos’ animais da DH nos podem dizer sobre a DH. Jones nota que há várias mudanças que foram vistas primeiro em animais, e só depois em pacientes com DH.

08:33 – Jones: Embora os modelos de rato da DH sejam geneticamente precisos, ainda não nos ajudaram a desenvolver um bom medicamento para a DH. Porquê? Muitas descobertas em ratos não se mantêm quando a experiência é repetida, devido a inconsistências no relato e experiências. Esta é uma razão pela qual ‘avanços’ em ratos até agora não levaram a tratamentos para a DH. Trabalhar com ratos é difícil, e há várias variáveis no manuseamento que podem alterar o resultado de uma experiência. Estamos a melhorar na padronização da nossa abordagem à investigação animal para distinguir as descobertas ‘verdadeiras’ nos modelos de DH. Jones faz parte de um grupo que trabalha para comparar muito cuidadosamente diferentes modelos de rato da DH.

08:42 – Jones: novas tecnologias genéticas podem comparar ratos e humanos para perguntar quais dos muitos modelos são mais semelhantes aos pacientes com DH. Analisar redes de genes e atividades em animais modelo da DH pode revelar padrões que estudar moléculas individuais pode perder. Uma forma de ver se as descobertas em animais são úteis é ver se os pacientes humanos têm diferenças genéticas nessas vias. Para distinguir o sinal genético do ruído, precisamos de informações detalhadas do historial familiar.

08:51 – Laura Bannach Jardim, uma cientista brasileira que estuda a DH, dirige-se ao CMDH sobre aspetos genéticos da DH específicos da América Latina.

08:52 – Jones: Não temos sido muito bons a recolher informações do historial familiar até agora, mas é realmente importante. Jardim lembra à conferência quão complexo é o contexto das pessoas latino-americanas, contendo genes europeus, nativos e africanos. Embora haja quase 600 milhões de pessoas na América Latina, não temos a certeza do número exato de pessoas afetadas com DH. A alta ocorrência de DH na Venezuela foi notada já nos anos 1950, famílias de lá contribuíram para encontrar o gene da DH. Jardim nota várias outras localizações no Peru e Brasil têm alta ocorrência de DH.

09:16 – Anita Goh estuda discriminação genética contra pacientes e famílias com DH na Universidade de Melbourne

09:19 – Goh: vivemos numa era em que as pessoas podem obter muita informação genética sobre si mesmas, muitas vezes sem ajuda para a compreender. Empresas como a 23AndMe dão aos consumidores muita informação genética, sem ajuda para compreender as suas implicações. ‘Discriminação genética’ é tratamento diferencial ou negação de direitos baseada em informação genética. Goh estudou discriminação genética em portadores da mutação da DH na Austrália, como parte do estudo PREDICT-HD. Cerca de um terço dos portadores da mutação da DH que responderam ao inquérito de Goh relataram ter experienciado discriminação genética. Muitas pessoas inquiridas por Goh experienciaram problemas ao adquirir seguro de vida após o seu teste genético. Goh criou um sítio web para ajudar famílias australianas com DH a lidar com discriminação genética chamado ‘Discriminação Genética: Conhece os teus direitos’.

09:48 – Katharina Kubera resume vários estudos de exames cerebrais, que mostram mudanças precoces na forma como os cérebros de portadores da mutação da DH funcionam. Estas mudanças parecem preceder quaisquer mudanças na forma do cérebro, o que significa que os cérebros com DH podem estar a compensar a DH durante décadas. A ideia de “compensação” tem sido um tema do CMDH. Os cérebros parecem ser bastante bons a lidar com danos da DH durante muito tempo.

“Gusella está agora a analisar todo o genoma de pacientes com DH para tentar encontrar variações associadas ao início mais precoce ou tardio da DH. Este tipo de estudo requer milhares de amostras de ADN de pacientes com DH.”

09:57 – Michael Orth estuda as mudanças psicológicas associadas à DH. Orth nota que os exames cerebrais mostram encolhimento precoce em portadores da mutação da DH, mas o desempenho mental das pessoas permanece normal durante muito tempo. Orth usa uma técnica muito interessante chamada “estimulação magnética transcraniana” para estudar a função cerebral na DH. A EMT permite a Orth desativar partes do cérebro temporariamente. Observar o cérebro a acordar é uma forma única de estudar a função cerebral na DH.

10:16 – Tiago Mestre, de Toronto, está interessado em mudanças em pacientes com DH no fluido que rodeia o cérebro – o ‘fluido cerebrospinal’. Embora o LCR seja recolhido da coluna, banha diretamente o cérebro e por isso é um bom lugar para procurar mudanças precoces na DH. O objetivo de Mestre é procurar diferenças no LCR de pacientes com DH, na esperança de que estas mudanças possam ser corrigidas num ensaio de medicamento. Mestre sugere que na Doença de Alzheimer, há mudanças muito específicas observadas no LCR. Ainda não chegámos lá na DH. Felizmente, podemos aprender lições da experiência de outras doenças, como a Doença de Alzheimer.

10:35 – Christina Sampaio é a diretora clínica da fundação CHDI, trabalhando no desenvolvimento e teste de novos tratamentos para a DH. Sampaio está interessada em “biomarcadores” na DH. A CHDI tem uma equipa a trabalhar no desenvolvimento de biomarcadores para a DH.

13:24 – Na sessão ‘famílias’, Ignacio Munoz-Sanjuan está a falar sobre ‘Factor_H’. O Factor H visa melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas pela doença de Huntington na América Latina. O Factor H é uma organização sem fins lucrativos e não está afiliado a qualquer instituição científica ou outra existente

13:27 – Munoz-Sanjuan: O FactorH visa realizar projetos específicos, estabelecer ligações com ONGs, aumentar a consciencialização e mobilizar comunidades locais. O Factor H está a trabalhar com a Habitat for Humanity para direcionar ajuda muito necessária a famílias latino-americanas afetadas pela DH.

14:15 – A próxima sessão é importante – sobre testes genéticos para a DH e a situação atual em torno dos testes ‘preditivos’. O teste preditivo é quando alguém em risco de DH faz um teste genético para saber se tem a mutação que causa DH. Se a mutação estiver presente, significa que essa pessoa terá sintomas de DH em algum momento no futuro. Decidir se fazer o teste é difícil e uma decisão pessoal sem resposta certa ou errada. O aconselhamento genético especializado é essencial para ajudar a garantir que uma pessoa está totalmente informada e teve tempo suficiente para pensar. Existem diretrizes acordadas internacionalmente para garantir que o aconselhamento genético seja confiável, detalhado e oferecido por especialistas.

14:20 – Rhona Macleod atualiza-nos sobre as diretrizes atuais.

14:22 – Macleod: Uma área confusa é a zona cinzenta entre um teste claramente positivo e claramente negativo. Resultados na zona cinzenta são raros e investigação recente pode ajudar-nos a compreendê-los. Testes preditivos de crianças não são feitos porque retira o seu direito de escolher por si mesmas. Isto é controverso! As diretrizes, escritas em 1994, podem precisar de atualização à luz da experiência e nova evidência científica. A Federação Mundial de Neurologia e a Associação Internacional de Huntington estão a rever as diretrizes. Nenhuma mudança está definida e quaisquer atualizações precisarão de ser aprovadas pela comunidade da DH.

14:42 – Representando a IHA, Asun Martinez sugere que as diretrizes precisam de ser revistas e melhor monitorizadas para garantir que são seguidas.

14:48 – Claudia Perandones (Argentina) nota que em grande parte da América Latina, os testes genéticos não estão disponíveis ou são feitos sem aconselhamento adequado.

Hoje é o penúltimo dia do Congresso Mundial, que termina amanhã com meio dia focado em novos tratamentos a ser desenvolvidos.
Hoje é o penúltimo dia do Congresso Mundial, que termina amanhã com meio dia focado em novos tratamentos a ser desenvolvidos.

14:56 – Ouvimos de um membro de família brasileiro que 40 membros de uma família foram testados por um laboratório privado e todos os resultados enviados para uma pessoa. Foi desastroso – este é o tipo de coisa que as diretrizes são desenhadas para prevenir.

15:19 – Discussão útil com especialistas e membros de famílias. Parece haver apetite geral para rever as diretrizes e garantir que são seguidas

16:27 – A sessão final de hoje é sobre o estudo ENROLL-HD.

16:28 – ENROLL-HD é um estudo observacional global da DH que visa inscrever o maior número de pessoas possível. ENROLL visa ajudar-nos a compreender a DH, e também acelerar o recrutamento para ensaios clínicos futuros para ajudar medicamentos a serem testados rapidamente. ENROLL permitirá a investigadores qualificados da DH aceder de forma segura a informações sobre portadores da mutação da DH, esperançosamente acelerando a investigação

16:32 – Monica Haddad, uma neurologista brasileira, discute como partilhar informações sobre pacientes pode informar melhores cuidados para pacientes com DH. Haddad nota que a qualidade dos cuidados para pacientes com DH varia amplamente de país para país. Haddad espera que o que for aprendido no ENROLL informe médicos em todo o mundo sobre melhores métodos de cuidados para a DH

16:42 – Claudia Perandones, uma médica argentina que estuda a DH, descreve ‘grupos’ de pacientes com DH por toda a América Latina. Grandes famílias com DH na América Latina já nos ensinaram muito sobre genética da DH, Perandones sugere que ainda podemos aprender mais.

Conclusões do pôr do sol

Hoje o congresso ouviu tanto investigadores internacionais familiares da DH, como um grande número de vozes dos cientistas anfitriões da América Latina. Fomos lembrados por investigadores que estudam DH humana de quão crítico é o envolvimento de membros de famílias na investigação científica. Os resultados de estudos genéticos foram mostrados que envolvem mais de 3.000 voluntários pacientes com DH, bem como muitos resultados do TRACK-HD, que envolveu o estudo intensivo de 300 voluntários ao longo de 3 anos. Membros de famílias e organizações leigas permanecem envolvidos e apaixonados, como vimos na discussão da tarde sobre diretrizes de testes preditivos. É claro que temos um caminho a percorrer para desenvolver tratamentos para a DH, mas o envolvimento ativo de toda a comunidade global da DH é uma parte fundamental do nosso sucesso até agora.

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